Tempo perdido é um passeio por um universo em baixa resolução, onde as imagens se harmonizam pelo aspecto da simplicidade, brutalidade e repetição do ponto no papel e dos pixels na tela. A partir disso, o trabalho se propõe a explorar relações entre os aspectos orgânicos e a atmosfera digital. Tempo perdido é uma provocação para o ato da meditação através do trabalho e para a redução dos estímulos que levam a um estado hipnótico. É uma busca por um estado brutal, onde o tempo se perde para que possamos passear com nossos instintos. Tempo Perdido é uma série de trabalhos iniciados no começo da pandemia do COVID-19 que consiste em desenhos utilizando a técnica do pontilhismo e um vídeo explorando a estética bitmap.
Sem Título, 2020, nanquim sobre papel.
49x66cm
Sem Título, 2020, nanquim sobre papel.
49x66cm
Contra fluxo, 2021, nanquim sobre papel. 65x92cm
O tempo perdido: perder-se no tempo ou o tempo que perdemos? O ‘perder’ expõe a possibilidade de deixar de possuir, desperdiçar, não alcançar o que se deseja. Entretanto, o Tempo Perdido de Filipi Filippo é provocação da necessidade cotidiana de otimizar um tempo objetivo. A situação pandêmica interrompeu, em certo sentido, a contagem rigorosa de horários categóricos, o fluxo determinado pelos ponteiros do relógio. O trabalho de Filippo propõe uma nova contagem de horas, minutos e segundos. Ele atreve-se a se perder num tempo antes definido, agora íntimo e subjetivo. O abraça na lentidão para, finalmente, alcançá-lo na liberdade da própria escolha. Percorrer o tempo, para o artista, é atravessar a si próprio e registrar o agora, usando recursos da neurose pontilhista da tinta no papel e da ilusão tridimensional. Essa prática, iniciada como resposta à clausura doméstica do isolamento social promovido pela pandemia, o levou à criação de protocolos e regras em repetições gráficas.Em seus trabalhos, frações se conectam e se desconectam encadeando longos campos de nanquim. São travessias não lineares e caminhos psicogeográficos que, quando deliberados no suporte, propõem novos movimentos em trânsito constante. Diante deste conjunto de obras, temos a nítida impressão que tais arranjos orgânicos levam à condições abstratas, quase impossíveis, quase matemáticas e multidimensionais. Esse movimento pontilhado convida a inúmeras interpretações do mundo que nos cerca, como um cão que se coça incessantemente, a pulsação da máquina de tatuar ou o impacto das agulhas nas impressoras matriciais.
Por Manoela Furtado e Fabiano Gummo.
Sem Título, 2020, nanquim sobre papel. 49x66cm
Fitomorfas, 2021, acrílica sobre papel. 48x66cm